Relatorio da epidemia de febre amarella em Lisboa no anno de 1857 / feito pelo Conselho Extraordinario de Saude Publica do Reino creado por decreto de 29 de setembro de 1857.

  • Portugal. Conselho Extraordinario de Saude Publica.
Date:
1859
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Credit: Relatorio da epidemia de febre amarella em Lisboa no anno de 1857 / feito pelo Conselho Extraordinario de Saude Publica do Reino creado por decreto de 29 de setembro de 1857. Source: Wellcome Collection.

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    RELATOR]0 Portugal, por seu clima, pode ser considerado um dos paizes mais saudaveis da Europa. Se os seus habitantes fossem mais cuidadosos na agricultura, no enca- namento dos rios, na limpeza das povoações, e na observância das regras de boa hygiene, grande numero de moléstias desappareceria, ou pelo menos diminuiria n’este solo abençoado da providencia. As epidemias cholericas, que ultimamente o paiz tem soíTrido, partilhou-as com todo o mundo, e ainda foi dos mais poupados, porque só as teve duas vezes com vinte annos de intervallo. As epidemias dc typho mais notáveis que ivcsle século leem vexado Portugal foram a consequência dc guerras, dc invasões inimigas, dc silios de praças, e de todas as calamidades que acompanham tão desgraçadas occurrencias. À peste bubônica afíligiu muitas vezes Portugal, especialmenle no xvi século, mas quando igual mente assolava toda a Europa. No xvn século, depois de ter- minada nos primeiros annos a que começara nos últimos do século anterior, aponla-se apenas uma d’essas grandes epidemias no anno dc 1679; e desde en- tão ha quasi dois séculos que não tornou aqui a appareccr. De epidemias de febre amarella, alem dos casos observados desde 1850, não existe na nossa historia vestígios do seu apparecimenlo cm Portugal, senão com relação á que reinou em Lisboa no anno de 1723, c que foi a primeira na Eu- ropa. Depois d’essa epocha, e começando cm 1731 varias vezes se desenvolveram, e terrivelmente, estas epidemias, no século passado c n’este, em Gadiz, Gibraltar, Sevilha, Malaga, Barcelona, Leorne, e n’outras povoações do meio dia da Europa; e em 1845 e 1846 assolou as ilhas de Cabo Verde, sem que o continente por- luguez participasse de tão funesta influencia. Muitas vezes devastou a febre amarella as províncias do Brazil no xvn sé- culo, especialmente depois da sua invasão cm Pernambuco em 1680, sem que o flagello se transmittisse a Portugal, apesar das estreitas relações que havia então com aquelle vasto continente. Esta immunidade admiravel, de que, com- parativamente a outras cidades da Europa meridional, tem gosado Lisboa e Porto, assim como as outras povoações do reino, a respeito do typho americano,